Epígrafe Provisória

"Quanto mais a moda é feia, mais o povo acha bonito" - Juraildes da Cruz

Sons de sim – "Enfeites de cabocla"

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Menina da Lata

Na mesma e sempre dura hora,
nunca se demora,
madrugadora,
a filha de Dora, agora,
barriga de fora, mãos ainda suaves e um olhar onde explode tristeza
e esconde sua vertiginosa beleza,
na vida ingrata vem catando lata numa luta tola.
Natália cata latinha
pra mais tarde comê farinha
e meia salsicha se sobrar.
Vem batendo latinha com latinha,
de coca, guaraná.
Seu saco negro é um grande chocalho,
balaio de tensões intraduzíveis:
tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá,
balançando lentamente o barulho de lata amassada,
alumínio mínimo da vida que passa,
que amassa
latinha
e amassa
Natália, a menina.
O homem da lata com fã mirim

Foto: Rodrigues Moura/ECOPOP

3 comentários:

marcio cenzi disse...

quase um mês sem postar nada.
como é que fica, hein?

eli disse...

Feliz Natal, Sílvio. Saúde e Amor.

Bj-e


NATAL À BEIRA-RIO


É o braço do abeto a bater na vidraça?

E o ponteiro pequeno a caminho da meta!

Cala-te, vento velho! É o Natal que passa,

A trazer-me da água a infância ressurrecta.

Da casa onde nasci via-se perto o rio.

Tão novos os meus Pais, tão novos no passado!

E o Menino nascia a bordo de um navio

Que ficava, no cais, à noite iluminado...

Ó noite de Natal, que travo a maresia!

Depois fui não sei quem que se perdeu na terra.

E quanto mais na terra a terra me envolvia

E quanto mais na terra fazia o norte de quem erra.

Vem tu, Poesia, vem, agora conduzir-me

À beira desse cais onde Jesus nascia...

Serei dos que afinal, errando em terra firme,
Precisam de Jesus, de Mar, ou de Poesia?

David Mourão-Ferreira

Flávia Santos disse...

e os posts novos?