Epígrafe Provisória

"Quanto mais a moda é feia, mais o povo acha bonito" - Juraildes da Cruz

Sons de sim – "Enfeites de cabocla"

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

A flor e a pedra

Havia uma flor em sua mão
mas pedra em seu olhar,

rocha úmida,
lavada
no rebate de ondas daquela tristeza feroz.
Pôs a flor acima desse mar.
A lis pairava em seu cabelo como estrela única em noite escura.
Ela sorria. Ato nervoso que lhe era o manto possível no recobrimento de mágoas.
Muitas havia como a areia,
que impiedosamente é coberta pelo véu das ondas na praia.
Sorria assim. Misteriosa, nervosa e freqüentemente sorria.
Percebeu na flor debilidade, porém havia beleza.
Quis fragilizar-se, mas era ainda rocha.
Quanto mais lavava de sorrisos nervosos o seu olhar, mais o sentia se enegrecer de incrustações.
A flor foi perdendo o sentido de ficar ali,
pois não podia viver naquela rigidez
que aumentava a cada sorrir.
Até se desgarrar e ser levada para longe
pelas ondas que a rebotavam sobre seu úmido olhar.


Foto: Mutilação 2, de Manuel Gonçalves

Um comentário:

Mandi disse...

Infelizmente, há a pedra... Porque lugares com terra não existem mais.